NEGRO ROM

NEGRO ROM
INICIATIVA QUE RECONHECE A DIFERENÇA

domingo, 22 de agosto de 2010

Gorillus morbiddus

Me dê um beijo meu amor
Eles estão nos esperando
Os automóveis ardem em chamas
Derrubar as prateleiras
As estantes, as estátuas
As vidraças, louças
Livros, sim...

Caetano Veloso - Proibido Proibir


Após uma semana de divulgação do livro Negro Rom fui flagrado desejando, ignobilmente, sofrimento, dor e sangue. Calma. Era um desejo situado, unicamente, no plano voyeurista. Nada de materializações.

Curiosamente esse afã, mesmo nos cidadãos mais pacatos, se manifesta com relevante freqüência. Quem nunca desejou quebrar o que (ou quem) estava pela frente? É um resquício de nossa descendência símia, não há que se envergonhar, acho...

O final de semana chegou e, acompanhado dele, o espírito simiesco desejoso de poder. No meu caso o poder era irrelevante, só queria mesmo alimentar uma espécie de sadismo irreverente, que se fazia tão presente quanto imponente.

Começou no sábado com Abel Ferrara e seu primeiro filme independente, o despretensioso (e de baixíssimo custo) “Assassino da Furadeira” (1980). Quem conhece Ferrara sabe o que esperar. É agora, pensei. Um filme que fala sobre a linha tênue que nos separa da insanidade. Fui agraciado com banhos de sangue, e uma violência aparentemente sem propósito, mas não: eu entendia aquela violência, aquela raiva, aquela furadeira elétrica destruindo miolos, espalhando catchup como manda a receita dos mais consagrados filmes B. Beleza.

Confesso que deu uma relaxada, mas meu primata interior queria mais. A noite chega, e o domingo também. Descobri passando na TV o filme “Sexta-feira 13” (2009), o novo que não é remake. “Vamos lá macaquito, você tem a força”.

Sou fã do Jason, mas esse filme me fez dormir... Logo no início uma mulher siliconada, doida pra dar, mostrou os seios, mas nem isso foi legal... Mais fraco que o Sexytime, do Multishow, pelo amor de deus. Mortes bobas, com cheiro de coisa sintética.

A produção mais rica toma o lugar da independente. A independente, geralmente, é discriminada por ser... independente! E o macaquito, como fica? E o macaco, caralho?!

Ferrara, diferente, inteligente, pouco conhecido e com baixo orçamento conseguiu alimentar o Neanderthal que há em mim. Já o Jason atual, de Michael Bay, só o adormeceu. De uma certa maneira isso foi esclarecedor: se até um macaco consegue reconhecer qualidades na diferença, para um ser humano isso também não deve ser difícil.

2 comentários:

Jaya Magalhães disse...

Eu fiquei tão distante com o som dos gritos caetaneados em minha mente ao lembrar da música, por conta dos versos, ali.

E, não sei, esses devaneios foram tão desritmados em mim que me veio a tal da vontade, defenestração. Não sei, no entanto, se escolho algo ou alguém.

[Fiquei curiosa com essa coisa do livro].

Abraços.

Alexandre Lessa disse...

rs!
É ótimo destruir, defenestrar longe sem dó, dar espaço à atuação da personalidade primitiva... ai, dá um alívio... :)

Valeu pela visita, Jaya! :)