NEGRO ROM

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INICIATIVA QUE RECONHECE A DIFERENÇA

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Linguagem e Exclusão


“Tem alguma coisa estranha no jeito como você pronuncia as palavras. Você é nordestino?” – Essa pergunta me foi feita por uma amiga num estágio. A minha esposa, também, costuma rir de algumas pronúncias que ela diz serem muito arrastadas. É somente natural que eu carregue o sotaque nordestino na maneira de pronunciar algumas palavras.

A minha família é natural do município de São Lourenço da Mata, em Pernambuco, e veio para o Rio de Janeiro quando eu tinha apenas dois anos de idade. Criado por pais nordestinos e rodeado por tios, tias e sobrinhos com o jeito nordestino de falar, era inevitável que em
algumas palavras as minhas origens se fizessem mais presentes do que em outras.

Notamos que os grandes grupos culturais, mesmo dentro de um mesmo país, diferenciam-se e isolam-se em suas relações. Os signos lingüísticos de maneira geral refletem as diferenças e desmascaram domínios de códigos dispares. “Apesar de pertencermos a uma mesma ‘comunidade semiótica’, há uma diversidade de domínios lingüísticos devido à diversidade das várias regiões que compõem o território brasileiro, onde predominam linguajares com suas características próprias.” (FERREIRA, 1999)

Tratando especificamente da linguagem oral, é inevitável não percebermos a linguagem como porta-voz da exclusão. As pessoas que vão das zonas rurais para os grandes centros urbanos
são geralmente encarados como miseráveis, despreparados, sem cultura, muitos chegam a dizer que tais pessoas ‘nem sabem falar’. É como se a forma como tais pessoas falam não possui valor algum já que não falam como ‘nós’. Deste ponto até a generalização é apenas um passo. Qualquer pessoa que não fale como os citadinos das grandes cidades do Sudeste, o padrão lingüístico para o restante do Brasil, são logo acomodados em grandes grupos tais como ‘paraíbas’, ‘baianos’, ‘mineiros’, etc. Notamos, também, que os sotaques das regiões mais ao
sul são apenas exóticos, enquanto os sotaques das pessoas do Norte e Nordeste são tratados não apenas como exóticos, sendo bastante estigmatizado.

A linguagem, cada vez mais, tende a excluir pessoas que estão fora dos seus grupos culturais de origem e não dominam os códigos lingüísticos do grupo cultural que visam integrar-se, o grupo dominante. Mas, a linguagem, deveria servir para a união dos homens e não para a exclusão. Este é o desafio que, mais do que nunca, se nos apresenta.

Bibliografia:

Ferreira, A. P. O Migrante na rede do outro. Ensaios sobre alteridade e subjetividade. Rio de Janeiro/Belo Horizonte: Editora TeCorá, 1999.

José Carlos Peu, 19 de Julho de 2010. 22:11 h.

2 comentários:

Anônimo disse...

Nossa, Carlos! Seu jeito de pensar me deixa sem jeito! Me sinto fria! Dessa vez não vou comentar nada, mas refletirei sobre o assunto!

Nayara Marques disse...

Concordo plenamente com seu post, principalmente no último parágrafo. Compartilho da mesma ideia de que a linguagem que deveria ser usada para unir as pessoas, muitas vezes é usada para a exclusão das mesmas.

Adorei o blog, voltarei aqui mais vezes também, e será sempre bem-vindo no "anjo do pó".

:)